sábado, 2 de julho de 2011

No prédio

Como grande parte dos moradores de Águas Claras, quase cidade-dormitório, fico muito pouco por aqui. Trabalho, almoço, estudo e faço baladinhas no Plano Piloto, de forma que minha experiência com a cidade fica  (quase) restrita às passagens exaustivas pelo trânsito e, é claro, às experiências vividas no prédio: encontros no elevador, conversas com porteiros, barulhos dos vizinhos.

Nesta semana mesmo:

1. desci para a academia e encontrei uma mocinha, lá pelos 7 anos. Ela usa óculos, tem cachinhos louros e eu acho que eu era assim quando era criança. Identificação inevitável, como podem perceber, se bem que, mais do que eu, ela é super simpática e desenvolta. Conheci-a quando minhas sobrinhas estiveram por aqui e descíamos para o playground, o que me permitiu fazer conhecer algumas das crianças e das mães, sem o ônus de ser "a-vizinha-esquisita-que-mora-sozinha-e-não-falem-com-ela-crianças". Ah, mas o que eu estava contando é que batemos um papinho no elevador ("e aí, vai brincar um pouco, né?") e, já no térreo, a porta se abriu e lá estava uma senhora, numa cadeira de rodas, empurrada por um moço. Pois então a menina se JOGOU no colo da velhinha, para um abraço, e eu achei uma das cenas mais lindas da semana. Sabem amor puro, autêntico? Foi assim. A senhora sorriu para mim, enquanto era empurrada para o elevador e eu murmurava "que coisa linda de se ver!".

2. Essa menina loirinha é irmã de um outro,  adolescente, que tem uma amizade fantástica com uma outra adolescente do prédio. Eles andam pra cima e pra baixo juntos e eu adoro as caras de educação e de vontade de me socar que eles fazem, todas as vezes que os encontro e comento: "ah, acho lindo o amor no ar"; "e aí, como vai sua namorada?". Aí,  eles repetem 500 vezes QUE NÃO SÃO NAMORADOS e eu só acho divertido e vou continuar perguntando pela eternidade. Enfim, preciso fazer jus ao título de "vizinha-esquisita-que-mora-sozinha-e-é-um-poço-de-indiscrição-essa-véia-chata-um-dia-eu-falo-pra-ela-ir-cuidar-da-vida-dela".

3. Uma das coisas mais modernas do meu prédio é que nós temos uma porteira. Sim, amigos do Reino das Águas Claras, uma das nossas recepcionistas (será que este é o nome politicamente correto para porteiro?) é uma moça. Acho super avançado, coisa mesmo de "tá dominado": somos presidente do País, por que não podemos ser porteiras também? Tanto ela quanto o outro (não convivo com os do período noturno, que me parecem apenas vozes no interfone "Senhora, a pizza chegou!") são super gentis e amáveis. Para terem uma ideia, não é incomum ele observar que estou chegando (aliás, outra coisa massa aqui do prédio é um circuito de câmeras do caramba, com acesso em cada apartamento. Quando meus pais estiveram aqui, a diversão para meu pai aposentado era me ver descendo, saindo na garagem, manobrando o carro etc, até me perder pela rua afora) e me esperar no térreo, com uma ou outra encomenda. Quer dizer, ele aperta para o elevador parar no térreo, faz a entrega e eu continuo, sem precisar nem sair do elevador, um tipo de cuidado que não é obrigação dele, mas que é pura gentileza. 

4. Tenho uma vizinha com 3 filhos que é meu espelho, quer dizer, tem uma vida que é exatamente a vida que eu teria, se não tivesse a vida que eu tenho. Confesso que tenho invejinha dela e da família linda que ela tem, ao mesmo tempo que desconfio que ela também tem um pouco de mim. Percebo (ops, posso estar fantasiando feio, só pra me sentir mais confortável e não ser a monstra que tem uma vida chata e fica querendo tudo diferente) que ela estica os olhos compridos, enquanto malho na academia e ela está ali em frente, gerenciando a garotada no playground, enquanto ela está tirando o carro para buscar o mais velho na escola e eu também tiro o carro, mas para viver a excitante (ahan) vida  no mercado de trabalho. Enfim, mais um caso caso típico de "a grama do vizinho é sempre mais verde".  

Sobre os barulhos, farei um post exclusivo, que o assunto dá pano para a manga...