terça-feira, 25 de outubro de 2011

Pizzaria do Rubinho

Existem sinais que demonstram se você é ou não um experiente morador  de uma cidade, e esses sinais têm muito a ver com conhecer os lugares certos  - e evitar as roubadas.
No quesito “lugares certos em Águas Claras”, vou dar uma dica, que sou um ser humano bom, amigo e legal: visitem a Pizzaria do Rubinho. Esse é um espaço meio “só para os íntimos”, escondido na Quadra 301. Para achar, demos voltas e mais voltas, fora que nossa primeira incursão foi na segunda (dia de pizzaria fechada, é bom já avisar aos incautos), e só enxergamos, por entre as árvores do fundo da pizzaria (a gente não sabia que eram os fundos, né?),  uns caras lá dentro, de bermudão, olhando pra fora, assustados, tentando imaginar “que é que esse carro tá fazendo estacionando aqui? Boa coisa não deve ser e somos machos-alfa cautelosos, que vêem perigo em todo lugar, e isso está muito estranho”.
Enfim, bem dizia meu pai que o que é bom não vem de graça, e a gente tem que lutar e se esforçar (ah, as delícias de uma criação cristã...), de forma que voltamos na terça e recomendo bastante, especialmente o bife à parmegiana, que foi o que experimentamos, já por indicação de uma outra pessoa. A porção é generosa (papo de esfomeada, né?). A comida, muito gostosa. O preço, super justo.

Ah, e não, eu não estou ganhando nada por essa babação de ovo toda.
 

No metrô II

Noutro dia, sentei-me num dos indefectíveis bancos azuis, preferenciais para idosos, gestantes e deficientes. É claro que Murphy também viaja de metrô e, já na estação seguinte, uma senhora entrou e me levantei, que sou fina, jovem e fofa.  
Talvez por toda essa minha gostosura, ela me adotou. Assim que me instalei ao lado, ofereceu-se para carregar minha bolsa. Agradeci muito, pois só quem carrega uma bolsa feminina pode entender o que significa ter nos ombros  o peso do mundo inteiro. 
Numa das estações, uma outra moça se levantou e eu já fiquei de olho na vaga, mas a velhinha, nossa, ela tinha MESMO me adotado e ficou falando, quase aos gritos:
-Ali, pega ali, tem um banco vago, senta ali.
Acontece que o trem estava freando e eu, entre pegar o banco e me esborrachar, ou esperar o freio e perder a vaga, preferi a segunda opção que, obviamente, foi a que ocorreu (Murphy viaja conosco, certo?). Além da sensação deliciosa de ter sido passada para trás (a luta pra ir sentado num lugar desses é praticamente uma seleção das espécies), ainda tive que enfrentar os olhos reprovadores da senhora, que quase berra um “sua lerda, era pra correr logo!!!”, mas que também era fina e só disse, frustrada:
- Viu? Você demorou e ela sentou no “seu” lugar!!
Por sorte, um outro banco também tinha ficado vazio, e eu e a velhinha, minha mãe adotiva do metrô,  pudemos seguir viagem, sentadinhas e aliviadas.

No metrô

Tenho andado muito de metrô e, talvez vocês me achem louca, mas aprecio de verdade a experiência. Sei que provavelmente isso ocorre porque sempre utilizo esse meio de transporte em horários alternativos, sem grande movimento, e tenho a alternativa de usar um carro. Enfim, é inevitável reconhecer que meu olhar é classe média, mas também é inegável que esse mesmo olhar brilha, diante dos tipos e figuras impagáveis,  que parecem emergir do túnel.   
Num dia desses, por exemplo, conheci o Sr. Waldimiro, morador de Águas. Ele puxou papo, enquanto esperávamos o trem, e eu o achei fascinante. Conversamos sobre consciência negra, Milton Santos,  cidadania em Águas Claras... Descobri, inclusive, que ele tem um blog super badalado, O Negro no Brasil 1980, que eu já deixo devidamente recomendado.
No mesmo dia, um grupo de estudantes, todos com sua Canon no pescoço e jeans iguais e tênis iguais e uns 20 anos de idade, entraram no vagão onde eu estava. Penso que eles estavam fazendo algum tipo de exercício de fotografia e os achei, por si mesmos, absolutamente fotografáveis, na beleza da juventude interessada (e interessante)

Terra Nostra

No domingo, voltando pra casa, avistamos Águas Claras de longe (EPTG? Saída pelo Joquei?) e o motorista comentou:
- Olha lá a nossa terra. Nunca fui tão feliz quanto ali.
Tive que concordar. Afinal, estava olhando para o perfil dos prédios com os mesmos olhos amorosos.