quinta-feira, 29 de novembro de 2012

D. Marta em Águas Claras - A Encantadora de Bebês


A interação da mãe com a nossa faxineira, então, é uma dinâmica super divertida.  É que a Francisca leva a menininha dela, de 7 meses, e se tem uma coisa para a qual minha mãe nasceu foi para essa missão: cuidar de bebês, de modo que as duas passam o dia trocando ideias sobre criação de filhos, nascimento de dentes e  fraldas sujas. 


Num dia desses, liguei lá pra casa, pra ver como estavam as coisas, e ela respondeu:


- Sabe quem tá no meu colo, Issana? – tento falar o que quero falar, mas é quase impossível – Você ouviu? Ela dá dando gritinhos de alegria, você ouviu? - mais uma pausa. - Ah, vou ter que desligar, ela quer brincar com o telefone. 


Definitivamente, acho que não conheço quem goste mais de bebês que minha mãe. Segundo ela, aliás, todos perdem a graça, quando fazem 8 anos  e se tornam uns chatos, mas, até lá, como são interessantes... 




D. Marta em Águas Claras - O Barulho



Ela encontra vizinha no elevador e puxa conversa:

“Ah, você então vai parar no mesmo andar?”

“É sim”

Eu tento ajudar:

“Ela é a moradora do 5001, mãe.”

D. Marta  fica encantada:

“Ah, você tem um menino pequeno, não tem? Eu sempre ouço o barulho.”

A vizinha é muito agradável e responde, meio que se desculpando pelo “barulho”, e então eu digo que é um barulhinho bom (e é verdade, eles são uns vizinhos ótimos e nunca nos amolaram), a mãe concorda e diz que crianças são a alegria de um lugar.

 Despedimo-nos no corredor, mas eu ainda fico com uma vontade danada de explicar para ela (a vizinha) que, diferentemente de Águas Claras, o lugar de onde viemos é um lugar onde vizinhos não só se cumprimentam, mas trocam ideias, se ajudam e (principalmente) cuidam um da vida do outro.

D. Marta em Águas Claras - As Mangas


Já faz uns 2 meses que meus pais estão nos visitando. Acho o máximo ver a cidade a partir do olhar destes 2 mineiros, nascidos e criados no interior.


Para eles, por exemplo, o Parque não é somente o Parque. É também local de coleta de mangas. Da primeira vez, minha mãe chegou toda entusiasmada com a descoberta: 

“Issana, olha só, eu virei a minha blusa pra caber mais, mas tinha uma moça  do nosso lado, catando também, só que ela  era prevenida e tinha uma sacolinha e levou um monte”. 

A partir de então, ela nunca deixou de levar uma sacola plástica. Vai que rola, né? 


quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Gente Humilde



Na terça também choveu muiiiito, mas, dessa vez, em horário menos inglório, ou seja, já estávamos em Águas Claras, lanchando no Tuza’s, lanchonete que, aliás, recomendo, pois é coisa muito melhor que esses lanches pasteurizados que a gente vê por aí, nas grandes redes.

O morador “escolado” da cidade já descobriu a tal lanchonete, então o movimento de entregas é muito grande: os motoboys vão e vêm, com seus pacotes e troquinhos de dois reais e setenta e cinco centavos. Num dia de chuva, então, o movimento deles fica ainda maior.  Na terça, logo que a chuva começou, as encomendas se intensificaram, e assistimos à mutação que os caras fizeram, na mesa quase ao lado, transformando-se em guerreiros vestidos de armaduras negras, prestes a encarar a borrasca (ops, acho que nunca tinha usado essa palavra!).

Ando meio emotiva (#dontask), mas me deu uma tristeza, quando vi os pés de um deles, que colocava as galochas e, no meio do processo, deixou à vista umas meias puídas, mas bem limpinhas. Gente, eram as meias de um trabalhador, de quem se arrumou direitinho, pra fazer suas entregas, uma coisa super assim “é gente humilde... que vontade de chorar...”.

Temos pouca noção do esforço que as pessoas fazem para nos servir, essa legião de homens e mulheres invisíveis, que fazem nossa comida, limpam as nossas privadas e entregam nossos lanches, nas noites chuvosas. Acho que, se desenvolvêssemos de forma mais ampla essa noção, o mundo seria menos frio, até porque relutaríamos um pouquinho mais em reclamar que “esqueceram de colocar o catchup que eu pedi e isso é um absurdo e eu nunca mais vou comprar ali”.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Ao cinema, companheiros!



A vida do águas-clarense  é, como já falei tantas vezes por aqui, determinada pelo trânsito. Ontem, essa determinação chegou ao paroxismo, pois o céu despencou, o bueiro entupiu, o carro bateu e Brasília se tornou uma verdadeira barragem arregaçada, isso no singelo horário entre as 18 e as 19 horas, numa segunda-feira de expediente normal.

O caos, enfim.

Fui de carona com o Cláudio, que já abriu a porta do carro falando algo como  “é o apocalipse e só tem uma pista em frente ao zoológico”. Quando entramos na Avenida das Nações propriamente dita, caramba, a coisa já começava a engarrafar em frente ao Porcão.

Quem está há 2 anos em Águas já é bastante rodadinho e sabe, portanto, o que isso significa: HORAS (e não minutos) dentro de um carro cercado de estresse por todos os lados. Daí, tomamos a única medida possível: fomos ao cinema.

Não sei se foi pela ausência total de expectativas (afinal, QUALQUER COISA  é melhor que a impotência de dar minúsculas aceleradinhas de 10 metros, ad aeternum), mas tudo então passou a fluir de forma bem mais tranquila: o Cláudio achou uma vaga per-fei-ta, tomei um caldo verde no Ferreira,  vendo a chuva castigar o Lago e, depois, assistimos a SkyFall, bem abraçadinhos.

Bem, eu não sei se há mensagem edificante nisso tudo, mas não posso deixar de comentar: às vezes, a gente fica dando murro em ponta-de-faca, querendo mudar a realidade, e se esquece de que, meu amigo, seu carro não vai ganhar asas e você não vai se materializar em Águas Claras, diante de um cenário trevoso como o de ontem. O jeito, então, é ACEITAR A REALIDADE e MUDAR a própria ATITUDE, buscando alternativas menos sofridas e desgastantes.

(Hoje eu estou tão autoajuda... O pior é que acredito MESMO no que estou dizendo, pois já vivi na pele o desespero da falta de aceitação e a beleza de simplesmente fazer limonada de limão.

Tá, “fazer limonada de limão” foi o fundo do poço do lugar-comum, de forma que vou me retirando, antes que me decida a dizer que, depois da tempestade, vem a bonança.) 


domingo, 18 de novembro de 2012

Mas e o Tim Maia?


Síndicos são espécimes muito interessantes.  Frequento 2 prédios diferentes, então tenho acompanhado as peripécias de dois exemplares desta fauna. Confesso que ando intrigada e não tenho resposta para uma pergunta muito simples: afinal, o que leva alguém  a se tornar um síndico?


Faça um esforço e imagine a cena: você está ali, na sua vidinha tranquila de morador-classe-média-que-leva-seu-cachorro-pra-cagar-em-frente-ao-prédio-dos-outros  e resolve aparecer  numa certa reunião de condomínio, pra reclamar do barulho do 504, mas então leva um choque gostoso (nada como a popularidade, pois não?) quando alguém levanta seu nome como uma candidatura de peso para a batata-quente do ano, digo, para assumir o papel de síndico.


Você então, contra todas as probabilidades (e também contra a opinião de sua mulher), é vencido pela lisonja e  aceita a tarefa, quer dizer,  troca toda a tranquilidade possível na sua vida já tão intraquila  pelo privilégio de exercer um micro poder (será que essa é a resposta? Acho que, sozinho, o puro exercício do poder não justifica tanta chatice a suportar!) e, olhem só que incrível,  você também deixa de pagar a taxa de condomínio e passa a ganhar uns caraminguás de pro labore que, venhamos e convenhamos, não pagam nem um milésimo das infinitas amolações que, a partir daquele momento, não são mais do prédio ou da comunidade ou de cada vizinho em particular, mas passam a ser soberanamente suas – e você que se vire.


A partir de então, você se torna um escravo do prédio. Barulho no Primeiro às 3 da madrugada? Interfonam pra você. Sumiu uma encomenda? Pedem providências logo ali, no corredor do hall. Apartamento do 11º andar alagou todo o andar e os moradores desapareceram no ar? É você que tem que correr atrás do telefone do filhodedeus.  Crianças tocando o terror nos elevadores? Lá vai ele, o Síndico-Vilão, tirar doce da boca de crianças, digo, impedir a moçada de arrebentar (ou arrebentar-se) as engrenagens carésimas daqueles elevadores high-tech.

Eu mesma não sou lá muito de reclamar (pura falta de tempo, é claro!), mas já procurei o síndico daqui pra falar da luz que queimou no corredor, do cheiro de comida podre do andar, da vizinha que me liga às 6 da matina pra reclamar de um barulho inexistente. Imaginem quem curte uma reclamaçãozinha então, hein? É quase irresistível acionar a Polícia do Prédio.


Bem, mas então é isso: devo confessar que sou muito fã do síndico daqui, que se dedica DE VERDADE ao prédio. Não é incomum vê-lo com uma enxada na mão, ajeitando o jardim, ou parafusando uma lâmpada aqui, outra ali, quer dizer, temos a sorte de ter um síndico que, olhem só que diferente, esforça-se para além das responsabilidades. Para dar mais um exemplo dessa “dedicação sem fronteiras”: fizemos uma festa aqui no aniversário do Cláudio (huuum, isso merece um post, concordam?) e estávamos arrastando com dificuldade  uma mesa de 200 quilos e, tcharam, eis que surge, do nada, ele, o Síndico do Ano, que  não hesitou e passou a puxar peso junto com a gente.


Tá, pode ser que amanhã mesmo eu fique super desgostosa com o cara e volte aqui para reclamar, mas, por enquanto eu só posso louvar a quem, neste miolinho individualista chamado Águas Claras, se dispõe a cuidar do espaço comunitário, a arbitrar conflitos bobos, a gerenciar egos e situações.

Quando crescer, vou ser assim: uma síndica.

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Saia da Maquete!


Chegou às minhas mãos a revista Veja Brasília, que pretende dar um panorama do que é Brasília, do que há para fazer , de quem são as pessoas mais interessantes, de quais são os melhores lugares para comer e beber.

Não vou entrar aqui no mérito da qualidade do trabalho, mas a revista retrata, de forma fidelíssima, a grande miopia da Capital, que é a de ignorar solenemente o chamado “Entorno de Brasília”, antigamente denominado de “cidades-satélite”. Em suma, a revista se limita a trazer a vida que acontece no Avião, na Maquete, nas Asas e, no máximo, nos Lagos da vida, ignorando solenemente toda a vida que pulsa em derredor.  O que mais me espanta, entretanto, não é a opção editorial feita, até porque imagino que deve ser muito complicado definir mesmo o que vem  a ser Brasília, o que constitui efetivamente a amplitude da “Cidade” e, dessa forma, apelar para definições “da lei” é bastante confortável. O que me espanta mesmo é que, para muitas pessoas que convivem comigo, Brasília é MESMO apenas o glorioso Plano Piloto.

Nestes 7 anos em Brasília, tive dois endereços no Sudoeste e, agora,  estou em Águas Claras. Logo que cheguei, ficava muito restrita mesmo ao Plano: tudo era resolvido ali entre o Conjunto Nacional e o Setor Hospitalar Sul. Com o passar do tempo e com as mudanças inevitáveis da vida, acabei abrindo os horizontes, processo que, evidentemente, ainda está em curso, mas, desde já, posso dizer:  que riqueza, quanta diferença, como há o que desbravar!  Mais que isso, posso afirmar: quanta pobreza, acreditar que tudo se limita à Brasilha da Fantasia, aos prédios todos iguais, às avenidas intermináveis, aos monumentos maravilhosos...

Veja bem, não estou dizendo que tudo isso não tenha lá o seu charme, até porque já me rendi a ele e acho o máximo transitar por um espaço tão diferente. O que não entendo é quem OPTA por ficar no limite de uma linha imaginária,  onde, em muita cabeça paranoica,  se está a salvo da pobreza e a violência. Lembro a série Once Upon a Time, em que os moradores de uma cidade fictícia estão eternamente condenados a viver no território exíguo da cidadela, pois, assim que colocam o pezinho para fora da linha, perdem todas as suas lembranças e sua própria identidade.  O que não percebem, enganados pelas facilidades de uma vida medíocre, é que talvez a identidade plena só se desenvolva para muito além da linha imaginária.

Enfim, faço um apelo aos meus queridos moradores do Plano que, nascidos e criados por ali, nunca experimentaram a Feira do Guará, o Parque de Águas Claras, a efervescência de Taguatinga. Nossa, há tanta coisa por descobrir! Bem, então é isso. Acredite em mim: “as glórias e as caras da cidade”  vão muito, muito além do Plano Piloto e de  suas adjacências  ricas. 

quarta-feira, 14 de novembro de 2012


O que aconteceu de novo em Águas Claras? Ah, tanta coisa... Vejamos:


  •       O salão que frequentava fechou, liguei descabelada (com o perdão do trocadilho) e não consegui falar,  mas depois o descobri,  escondidinho no Edifício Moove, sem nem um milésimo do charme e do glamour do endereço antigo. O coitadinho parece aquelas damas orgulhosas, que caem na pobreza aos 70 anos, vão morar na periferia, mas levam consigo prataria e, sobretudo, nariz empinado. No que me diz respeito, redescobrir o Adarlan das Sobrancelhas foi um tremendo alívio (a propósito, desculpem o papo-brioche, ok?).
  •    O administrador da cidade mudou. Hoje eu não tenho a mínima ideia de quem seja, o que deixa saudade do Manoel Carneiro-cabelinho-de-cuia-tuiteiro-que-dava-atenção-à comunidade... Pena que no meio do caminho tinha uma revistinha. Tinha uma revistinha no meio do caminho.
  •    Inauguraram uma rua inteira, paralela à Castanheiras (está aí uma coisa que só acontece lá em Águas Claras: a cidade está tão por fazer que poderemos contar para nossos filhos que “na minha época, isso daqui era fechado e não tinha essa rua e tal-e-coisa” e nossos filhos nos olharão com benevolência, achando tudo um tremendo folclore e como-a-vida-da-mamãe-foi-primitiva).
  •     Também inauguraram, quase lá em frente de casa, um Posto de Encontro Comunitário (o nome será esse mesmo? Corrijam-me) e, agora, a gente fica observando lá de cima o exercício das pessoas e o interessante fato de elas preferirem sair dos seus condomínios com academias plus mega ultra blaster para utilizarem aqueles aparelhinhos da praça, só pelo gosto de conviver. Acho fascinante.
  •    Abriu um Subway, vai abrir uma Biscoitos Mineiros (viva!) e eu descobri que o melhor churrasquinho do mundo está na quadra do Piratas, mas isso é papo para outro post. Perceba que a civilização está chegando aos poucos. Não desanimemos, companheiros! 

De volta


Será que alguém ainda passa por aqui? Tanta coisa acontecendo nas águas claras da vida que o blog caiu para 20º plano. Fiz diversos posts mentais nestes tempos. Alguns, cheguei até a verbalizar com o Paixão. Outros morreram de inanição, guardados aqui dentro. Coitados, não chegaram a nascer, filhos de mãe estressada e ocupada...


Bem, mas isso não importa. O que importa é que anuncio, gloriosa e definitiva, o Retorno deste Blog-Jedi.