Síndicos são espécimes
muito interessantes. Frequento 2 prédios
diferentes, então tenho acompanhado as peripécias de dois exemplares desta
fauna. Confesso que ando intrigada e não tenho resposta para uma pergunta muito
simples: afinal, o que leva alguém a se
tornar um síndico?
Faça um esforço e imagine
a cena: você está ali, na sua vidinha tranquila de morador-classe-média-que-leva-seu-cachorro-pra-cagar-em-frente-ao-prédio-dos-outros
e resolve aparecer numa certa reunião de condomínio, pra reclamar
do barulho do 504, mas então leva um choque gostoso (nada como a popularidade,
pois não?) quando alguém levanta seu nome como uma candidatura de peso para a
batata-quente do ano, digo, para assumir o papel de síndico.
Você então, contra todas
as probabilidades (e também contra a opinião de sua mulher), é vencido pela
lisonja e aceita a tarefa, quer dizer, troca toda a tranquilidade possível na sua
vida já tão intraquila pelo privilégio
de exercer um micro poder (será que essa é a resposta? Acho que, sozinho, o
puro exercício do poder não justifica tanta chatice a suportar!) e, olhem só
que incrível, você também deixa de pagar
a taxa de condomínio e passa a ganhar uns caraminguás de pro labore que,
venhamos e convenhamos, não pagam nem um milésimo das infinitas amolações que,
a partir daquele momento, não são mais do prédio ou da comunidade ou de cada
vizinho em particular, mas passam a ser soberanamente suas – e você que se vire.
A partir de então, você se
torna um escravo do prédio. Barulho no Primeiro às 3 da madrugada? Interfonam
pra você. Sumiu uma encomenda? Pedem providências logo ali, no corredor do
hall. Apartamento do 11º andar alagou todo o andar e os moradores desapareceram
no ar? É você que tem que correr atrás do telefone do filhodedeus. Crianças tocando o terror nos elevadores? Lá
vai ele, o Síndico-Vilão, tirar doce da boca de crianças, digo, impedir a
moçada de arrebentar (ou arrebentar-se) as engrenagens carésimas daqueles
elevadores high-tech.
Eu mesma não sou lá muito
de reclamar (pura falta de tempo, é claro!), mas já procurei o síndico daqui
pra falar da luz que queimou no corredor, do cheiro de comida podre do andar,
da vizinha que me liga às 6 da matina pra reclamar de um barulho inexistente. Imaginem
quem curte uma reclamaçãozinha então, hein? É quase irresistível acionar a
Polícia do Prédio.
Bem, mas então é isso: devo
confessar que sou muito fã do síndico daqui, que se dedica DE VERDADE ao prédio.
Não é incomum vê-lo com uma enxada na mão, ajeitando o jardim, ou parafusando
uma lâmpada aqui, outra ali, quer dizer, temos a sorte de ter um síndico que,
olhem só que diferente, esforça-se para além das responsabilidades. Para dar
mais um exemplo dessa “dedicação sem fronteiras”: fizemos uma festa aqui no
aniversário do Cláudio (huuum, isso merece um post, concordam?) e estávamos
arrastando com dificuldade uma mesa de
200 quilos e, tcharam, eis que surge, do nada, ele, o Síndico do Ano, que não hesitou e passou a puxar peso junto com a
gente.
Tá, pode ser que amanhã
mesmo eu fique super desgostosa com o cara e volte aqui para reclamar, mas, por
enquanto eu só posso louvar a quem, neste miolinho individualista chamado Águas
Claras, se dispõe a cuidar do espaço comunitário, a arbitrar conflitos bobos, a
gerenciar egos e situações.
Quando crescer, vou ser
assim: uma síndica.