Estava doida para voltar a este
espaço, mas a vida cobra o seu preço. Não vou entrar em detalhes, mas o fato é
que minha querida filha nasceu prematurinha e tivemos que pagar um pedágio de
55 dias no Hospital Santa Lúcia. Imagine então o quão distante andei das angústias (e alegrias, por que não?) do
viver em Águas Claras. Agora, já há um mês em casa, com a rotina já estabelecida,
voltei a me ocupar, nos exíguos minutinhos de folga entre mamadas, banhos e
trocas de fralda, com e-mails de trabalho e blogs queridos.
Para ser bem exata, devo dizer
que, no caso do Em Águas Claras, a
vontade de escrever surgiu a reboque daquele sentimento de indignação e
perplexidade, tão comum ao morador daqui,
quando se vê diante da necessidade de usar algum aparelho público, algum sistema
de apoio ao cidadão. Precisei levar a filha para vacinar e, adivinhem só,
despencamos para Taguatinga, depois de calcular se o Guará não seria mais
perto. Águas Claras não tem sequer UM POSTO de saúde. Com o perdão do
trocadilho infame, não tem posto de saúde nem pra remédio. Fico impressionada
com isso, pois vim de uma pequena cidade do interior mineiro, que tem menos de
60 mil habitantes, mas tem um posto de saúde em cada bairro. Pode isso,
Arnaldo? Pode uma cidade do tamanho de Águas
Claras não dispor de um ÚNICO posto de saúde? Qual é a lógica (ou a
ilógica) por trás dessa escolha (ou desse descaso) governamental? O que pensam
os administradores e os que possuem a caneta (veja hoje, no Globo Repórter)?
Classe média não precisa de creche nem de posto? Não precisa de praça nem de
árvore? Meus sais, a gente precisa sim, e é isso que dimensiona nossa dignidade
cidadã, de bons moços pagadores de impostos!
Em Taguatinga, fomos super bem
atendidos pela equipe de saúde do posto e eu fiquei com uma invejinha danada da
mãe que pode colocar o filhote num carrinho e ir, pimpona e saltitante, vacinar o filho, com
toda tranquilidade do mundo. Entre nós, moradores de Águas, essa vacinação,
entretanto, exige tirar o carro da garagem, enfrentar trânsito, organizar a vida
para viajar pela EPTG, por quilômetros a fio, que a unidade de saúde mais próxima
não é assim, digamos, tão próxima...
E sabe o que é pior? Não tenho
a mínima esperança de que esse quadro se
modifique, pois não somos REPRESENTADOS por ninguém, mas atendidos por uma
burocracia morosa e insatisfatória. É numa hora dessas (e em tantas outras,
como naquela em que um leitor envia denúncia da descaracterização que está
sendo feita na praça Sabiá) que entendemos o poder da democracia que, como se
sabe, é a pior forma de governo, salvo
todas as demais. No momento,
nossa realidade está no campo do “demais”: é indiferença demais, é imobilização
demais, é desrespeito demais.
Um dia, quem sabe, a gota d’água
chega e a gente desce junto a Castanheiras. Enquanto isso, apoiemo-nos na
solução individual, que é a única que sabemos articular. Afinal, ainda bem que
temos carro, não é mesmo? Isso nos serve,
pelo menos por enquanto, até que os buracos nas ruas malcuidadas nos imobilizem de
vez.