sexta-feira, 26 de julho de 2013

Da varanda

Da varanda, neste exato momento mágico (22:22 de uma sexta-feira), observo:

- pessoas se divertindo no Primeiro Bar. Não está tão movimentado, principalmente se considerarmos que é uma sexta-feira. Será que saiu da modinha?

- Menino e seu skate,  descendo à toda a Boulevard, como se carros não houvesse.  Anotação mental: NUNCA oferecer  skates para degustação  da  Letícia.

- Metrô, sentido Plano Piloto.  Está vazio. É meio melancólico, não é?  

- Metrô, sentido Samambaia. São quase onze da noite e ele continua lotado. Isso eu já acho  meio angustiante.

- Prédios com quase todas as luzes acesas. Daqui a pouco, lá pelas 3 horas da manhã, quando eu acordar para amamentar e, depois, caminhar e caminhar e caminhar pela casa, apreciando minha filha linda no colo, enquanto ela se dedica a arrotos nada poéticos e vai aos poucos cerrando os olhos,  verei pelas janelas os mesmos prédios, apagados, mudos, escuros,  com uma ou outra luzinha solitária, e vou imaginar que ali, naquele cômodo iluminado,  está alguém insone ou doente e vou fazer uma prece quieta por essa pessoa, mas vou pensar também que talvez seja alguém que simplesmente esteja lendo um bom livro e agradecerei a Deus por ainda existirem esses prazeres tão simples.

- Carro descendo a Boulevard. Ainda bem que o menino do skate já se foi.


Huuuumm... e por falar em “se ir”, preciso render o Cláudio da tarefa, que ele também merece dar pausas. 

E acabei não falando nada da Biscoitos...

Já viram o brilho e o glamour da Biscoitos Mineiros de Águas Claras? Estivemos por lá no fim-de-semana passado e, nossa, senti-me tão privilegiada, eu que já conhecia os produtos deles (a torta Suflair é minha definição de doce dos sonhos) e que agora não preciso mais despencar para o Plano Piloto, se quiser “usufruir”.

Acho que lugares transadinhos fazem com que as pessoas fiquem mais bonitas.  Não sei se é porque ando meio reclusa, descabelada (alguém tem sugestão de cabeleireiro BOM na cidade? Continuo na minha cruzada pelas mãos ideais para meus cabelinhos rebeldes e safados e destruídos, que só não são ruins porque eu aprendi que não se deve dizer isso dos próprios cabelos), mas achei que, para uma tarde de sábado, estava todo o mundo muito fashion e chique e cuidadosamente casual.

Ops... acaba de me passar  pela cabeça que pode ser que as pessoas tenham SE ARRUMADO para ir conhecer a loja.

Será? 

(Acabei de ser expulsa da sala e vim para a varanda. É que o Cláudio está fazendo a Letícia dormir, tarefa hercúlea, e  reclamou da TV ligada na novela e, por tabela, dos meus dedinhos no teclado.


Novos tempos, meus amigos, novos tempos.) 

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Quase Saramandaia

Já que estou em casa, acabo “convivendo” muito mais com os vizinhos. Neste exato momento, junto com a máquina de cortar grama, que moi lá fora as beiradas do metrô, com as vassouradas da diarista nas paredes e nos móveis aqui de casa (e mais os gemidinhos da filhota, que acorda e daqui a pouco quer peito e nada de post terminado), está em ação o Pica-pau de Fim-de-Semana.

Estou estranhando. Afinal, hoje é quinta-feira e ele se adiantou à rotina que, há mais de um mês, estabeleceu: basta chegar sábado e domingo e, tcharan, temos que utilizar nossa furadeira da polishop e pregamos quadros e reajustamos as cortinas e furamos e furamos e furamos  cada centímetro dos quartos e da sala e da cozinha e do corredor  ( preciso interromper para  contar que ontem vi, na wimóveis, alguém chamando corredor minúsculo de “hall de circulação”. A-do-ro.)

Evidentemente, não basta que seja sábado ou domingo. É preciso que seja também bem cedo, de preferência às seis da manhã, pois pica-pau que é pica-pau é mutante  madrugador.

Na próxima edição da estranha série “Vizinhos do Barulho”, falaremos de um outro espécime, o Batedor Serial, que sai batendo todas as portas da área comum do prédio, mesmo que seja super cedo ou super tarde, para depois mexer tresloucadamente na chave e na porta. Só aí chama o elevador, que sobe gemendo e, ufa, leva para  longe nosso personagem, trazendo  aos ouvintes, enfim, esta raridade chamada sossego.  

(By the way, é claro que estou sentando no próprio rabo. Afinal, também integro a fauna, sendo mais conhecida como a Mão-que-embala-o-berço-mas-não-consegue-fazer-o-bebê-calar-a-boca-às-3-da-madrugada)

Enjoadinho

Ontem perdi um seguidor no Twitter, quando falei do cocô da minha filha. Provavelmente, é alguém que não tem filho e que ainda se enoja com comentários sobre cores e texturas da matéria fecal. Alguém que consegue dormir pelo menos 6 horas ininterruptas. Alguém que acha vômito algo nojento e impossível de lidar.

Eu já fui assim, então entendo. Juro.  Só não sei como pude viver sem experimentar um sentimento tão doce e puro quanto o amor que se tem por um filho.


Ah, e sim, eu também já fui bem menos apegada a clichês.

(Para entender o título do post, clique aqui.

terça-feira, 16 de julho de 2013

Nem pra remédio

Estava doida para voltar a este espaço, mas a vida cobra o seu preço. Não vou entrar em detalhes, mas o fato é que minha querida filha nasceu prematurinha e tivemos que pagar um pedágio de 55 dias no Hospital Santa Lúcia. Imagine então o quão distante andei  das angústias (e alegrias, por que não?) do viver em Águas Claras. Agora, já há um mês em casa, com a rotina já estabelecida, voltei a me ocupar, nos exíguos minutinhos de folga entre mamadas, banhos e trocas de fralda, com e-mails de trabalho e blogs queridos.

Para ser bem exata, devo dizer que,  no caso do Em Águas Claras, a vontade de escrever surgiu a reboque daquele sentimento de indignação e perplexidade,  tão comum ao morador daqui, quando se vê diante da necessidade de usar algum aparelho público, algum sistema de apoio ao cidadão.  Precisei  levar a filha para vacinar e, adivinhem só, despencamos para Taguatinga, depois de calcular se o Guará não seria mais perto. Águas Claras não tem sequer UM POSTO de saúde. Com o perdão do trocadilho infame, não tem posto de saúde nem pra remédio. Fico impressionada com isso, pois vim de uma pequena cidade do interior mineiro, que tem menos de 60 mil habitantes, mas tem um posto de saúde em cada bairro. Pode isso, Arnaldo? Pode uma cidade do tamanho de Águas  Claras não dispor de um ÚNICO posto de saúde? Qual é a lógica (ou a ilógica) por trás dessa escolha (ou desse descaso) governamental? O que pensam os administradores e os que possuem a caneta (veja hoje, no Globo Repórter)? Classe média não precisa de creche nem de posto? Não precisa de praça nem de árvore? Meus sais, a gente precisa sim, e é isso que dimensiona nossa dignidade cidadã, de bons moços pagadores de impostos!

Em Taguatinga, fomos super bem atendidos pela equipe de saúde do posto e eu fiquei com uma invejinha danada da mãe que pode colocar o filhote num carrinho e ir,  pimpona e saltitante, vacinar o filho, com toda tranquilidade do mundo. Entre nós, moradores de Águas, essa vacinação, entretanto, exige tirar o carro da garagem, enfrentar trânsito, organizar a vida para viajar pela EPTG, por quilômetros a fio, que a unidade de saúde mais próxima não é assim, digamos, tão próxima...

E sabe o que é pior? Não tenho a  mínima esperança de que esse quadro se modifique, pois não somos REPRESENTADOS por ninguém, mas atendidos por uma burocracia morosa e insatisfatória. É numa hora dessas (e em tantas outras, como naquela em que um leitor envia denúncia da descaracterização que está sendo feita na praça Sabiá) que entendemos o poder da democracia que, como se sabe, é a pior forma de governo, salvo  todas as demais.  No momento, nossa realidade está no campo do “demais”: é indiferença demais, é imobilização demais, é desrespeito demais.


Um dia, quem sabe, a gota d’água chega e a gente desce junto a Castanheiras. Enquanto isso, apoiemo-nos na solução individual, que é a única que sabemos articular. Afinal, ainda bem que temos carro, não é mesmo? Isso nos serve,  pelo menos por enquanto, até que os buracos  nas ruas malcuidadas nos imobilizem de vez.