segunda-feira, 21 de julho de 2014

Voltinha no Parque





Gosto dos rituais: vencer a preguiça, colocar a filhota no carrinho, atravessar a Castanheiras, subir a 26 Norte, entrar pela portinhola, decidir se subo ou se desço (se subo, enfrento o sol no rosto. Se desço, deixo a subida para o final, quando já vou estar cansada), decidir se será volta inteira ou volta interrompida e, finalmente, usufruir a paisagem que, no caso, é tanto natural quanto humana.

Se subo, logo passo pelos pneus com flores. Sempre acho aquilo muito bucólico, mas sou incorrigível e fico também olhando os prédios, avaliando se gosto ou se não gosto da fachada, se o valor é alto ou baixo, se gostaria ou não de morar ali. Nesse exercício, aliás, companheiro e eu temos nossas constantes: falamos mal de um dos condomínios (evidentemente, não falarei qual é, pois já tive a minha cota de polêmica semanal), que é mal-acabado, desestruturado, imenso pombal, e elogiamos o outro, que é lindo, de estruturas firmes e de vista maravilhosa.

À medida que avanço, passo pela “matinha”, que fica ao lado da pista que atravessa o Parque. É ali que costumo observar melhor as pessoas. A fauna é interessante: pequenos, altos. Gordos, magros. Bem-vestidos, largados. Crianças e patins. Skates e cães, muitos cães. Uns dizem boa tarde e levo um sustinho. Outros ouvem música. Alguns simplesmente retribuem o olhar e eu então desvio os olhos e paro pra tomar uma água no bebedouro. Em algumas situações, aliás, já travei conversas breves à beira do bebedouro, conversas que giram em torno dos nossos filhos (lindos) e de nossos cachorros (fofos).

Continuo a caminhada. Se estou com meus pais, fazemos uma paradinha também no banheiro, que sempre acho muito limpinho e me sinto num lugar civilizado e que bom que a manutenção é tão caprichosa.

Depois, chega a apoteose do passeio, pelo menos sob a perspectiva da filha: o laguinho e seus patinhos e gansos e tartaruga (há também um rato não-fofo e muito selvagem e real, que mora na árvore ao lado de um dos bancos – cuidado, portanto, pessoal.). Este também é um lugar interessante para começar conversas aleatórias, soltas, sem compromisso como já existem no mundo das nossas providências e dos nossos negócios complicados.

Atravessamos a pontezinha e então, já que quase sempre a volta é a curtinha, pois o bebê é álibi perfeito e precisa comer e trocar fralda com horário marcado, começo a subida. Dia desses, havia mil minhocas mortas no asfalto. Dó delas, mas o carrinho passa em cima. Desvio das bicicletas que descem à toda e continuo a subir, bufando de sedentarismo, mas  já adrenalinizada e cheia de projetos bem-intencionados, que não se cumprirão (“hoje vou  fazer a volta interrompida, mas amanhã juro que volto e faço inteira).

Atravesso a portinhola e volto à vida @emaguasclaras como ela é: ai, que preguiça de arrastar o carrinho por essas (não) calçadas...

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Hospital e escola: AQUI SIM!




Chegou-me aos ouvidos a história de uma moradora de Águas Claras que pegou um táxi e soltou o verbo com o taxista. Segundo ela, não temos escola e hospital público @emaguasclaras porque há ASSOCIAÇÕES e GRUPOS DE MORADORES que se articulam politicamente e impedem isso. Os motivos, enfeixados neste ou naquele argumento furado, têm a ver basicamente com aquilo que a senhora resumiu (elegantemente, aliás) da seguinte maneira: “e esse pessoal por acaso quer pobre de Ceilândia e Samambaia vindo de metrô pra cá, para utilizar escola e hospital? De jeito nenhum!”.

Fiquei tão indignada que até resolvi ressuscitar o blog. Se isso for mesmo verdade (e eu acho mesmo muito provável), acaba por aqui todo o meu gosto por ser moradora da cidade. Quando brinco que somos classe mediazinha, falo isso com carinho, expressando a realidade de quem trabalha, paga conta e se esforça pra ter uma vida digna e minimamente confortável, mas impedir que a cidade desfrute de aparelhos públicos básicos é a coisa mais mesquinha e tacanha que já vi, a coisa mais mediamediocrezinha da face da Terra.

Tenho muita consciência de que não somos sós, de que precisamos do Estado, de que, apesar de nossos condomínios bem-arrumados, de nossas áreas de lazer maravilhosas, continuamos a precisar, para nós e para as pessoas que amamos, de apoio público. Ignorar que um dia qualquer um de nós pode necessitar do aparato estatal é até imaturidade. Vou dar um exemplo bem simples: minha filha toma, por indicação da pediatra, algumas vacinas no Sabin. Outras, a menininha toma no posto de saúde e, querem saber? Prefiro o Posto! Vou àquele da Praça do DI, em Taguatinga, e sempre fui muito bem-tratada. Talvez por darem mais picadas que as colegas do laboratório particular, as servidoras do Posto são muito mais eficazes, mais precisas no serviço. Além disso, uma das vacinas que ela toma gratuitamente, por ser prematura, é a palivimzumabe (acho que é este o nome), uma vacinazinha assim de uns 5 mil reais  A DOSE, sendo que ela tomou 3 doses no ano passado e 3 neste ano.

Qual é o morador da nossa cidade que pode bancar umas doses dessas? Desconheço.

A atitude de quem recusa hospital na cidade, para não atrair pessoas “diferenciadas”, é essa sim é de uma pobreza sem fim. Desconhecer que estamos todos interligados, que o buraco na pista nos diz respeito, pois podemos nos machucar nele, que o hospital público ao lado da nossa casa pode ser o que vai nos salvar a vida (ou nos pagar um tratamento de câncer, não bancado por nossos super planos de saúde, que nos faltam nas horas mais necessárias), que a escola pública pode fazer a vida de empregadas domésticas, porteiros e funcionários em geral mais fácil, e que isso é excelente, mesmo se consideramos só nossa perspectiva egoísta, pois pode refletir na prestação de serviços melhores, é ser mesmo muito imaturo, é conhecer pouco da vida e das fragilidades humanas.

Enfim, como não sei se se trata mesmo de uma verdade, paro por aqui, mas fica um último recado: queridos, se fôssemos mesmo RICOS, que não precisam conviver nem entrar em contato com pobres, estaríamos morando no Plano Piloto. Ou melhor, estaríamos no Lago Sul. Ou em Miami. Ou em Dubai.

Não aqui @emaguasclaras.

 Não aqui.

sexta-feira, 30 de maio de 2014

Parabéns, Detran!

Brincadeiras à parte (sim, meus amigos, foi uma brincadeira. Afinal, todo reacionário tem seus limites), o que REALMENTE me dá uma coisa boa demais no coração é ver todos aqueles motoristas desonestos, que furam a fila na entrada da cidade (aquela entrada que cruza uma  via estrada férrea), darem com os burros n’água, colocarem os faroizinhos por entre as pernas e darem uma volta imensa, ao se depararem com a fiscalização do Detran.
É quase um orgasmo, juro. Vontade de  dar minha risadinha de bruxa e gritar um “bem-feito” redondo e universal, dirigido a todos os que acham que são espertos e mais importantes que os outros e que precisam chegar mais cedo e que têm o tempo mais valioso da face da Terra e que se danem vocês que seguem as regras e fazem essa filinha patética

Apenas mais uma mãe como outra qualquer


O fato de ter uma criança em casa mudou muita coisa na minha relação com a cidade.

Tenho, por exemplo, que “comemorar” cada cachorro que vemos (“que fofo, filha, que cachorro mais liiiiindo, olha só o lacinho dele etc”), pois a mocinha  é simplesmente vidrada neles e toma conhecimento de CADA UM dos bichos que passam por nós. Para fazer convenientemente o gosto dela, paro as pessoas, na maior cara de pau, para  ela emitir gritinhos e abanar as mãos, louca pra dar um apertão no bicho ou enchê-lo de beijos (o que eu nunca deixo, pois tenho medo de o cachorro tirar uma lasca da mãozinha dela).

 Enquanto ela festeja e o cachorro late, desconfiado, geralmente faço comentários do tipo “ela é louca com animais e nós vamos ter que arrumar um”. O dono do cachorro sempre fica comovido por ter a beleza e o carisma de seu bicho de estimação reconhecidos por um neném tão lindo (crianças sabem das coisas...), e eu omito o fato de que, para ela, não importa raça, cor, tamanho: o importante é que o objeto de tanta atenção amorosa seja minimamente reconhecível como um legítimo integrante do fantástico universo canino.

Além dessa interatividade by dogs, também estou muito mais interativa no condomínio: desço para a brinquedoteca, cumprimento porteiros, uso salão de festas, amolo síndico, interajo com babás... Virei, para o bem ou para o mal, a típica mãe águasclarense (alguém me disse um dia desses que não existe essa palavra, que quem nasce aqui é brasiliense e blábláblá, mas eu faço questão de continuar usando; acho que é uma questão de identidade), guardiã da moral e dos bons costumes, farol da pureza e do amor verdadeiro.

Exatamente por ter me rendido ao papel de mãe virtuosa, sinto uma estranha sensação de vitória quando fico sabendo que estão processando o Primeiro’s Bar por causa do barulho, que fecharam ontem o Libannus às 9h30 da noite, que impediram a sexy shop de abrir... Enfim, se eu não posso, que os outros não possam também! (A propósito, a referência à sexyshop é meramente estilística, ok? Afinal, não dou detalhes da minha vida sexual por aqui, certo? Deixem de fantasiar a desgraça alheia!)

 

segunda-feira, 19 de maio de 2014

Vida social @emaguasclaras


Depois do nascimento da filhota, nossa vida social se resume a nada vezes nada. No máximo, damos uma passada num restaurante ou numa lanchonete, para comer, enquanto Letícia explora um canudinho (sim, meus amigos, uma das paixões dela, junto com controles remotos de todo tipo, são canudinhos quadriculadinhos e compridinhos. Para competir com os canudos no quesito “distrações para bebês fofos”, o canudinho só perde para a Galinha Pintadinha, esta sim, imbatível.).

 

Bem,  considerando nossos agitos sociais, vocês imaginam o quanto fiquei satisfeita e feliz e me sentindo uma pessoa muito bem relacionada, quando um colega do novo trabalho nos chamou para jantar, depois de uma longa conversa que tivemos, a partir de uma pergunta básica que fiz a ele: “Fulano, moro em Águas Claras porque não tenho condições de morar no Plano, então morro de curiosidade de saber por que você, que certamente poderia morar onde quisesse, não percorre a Estrada Real rumo ao pote de ouro denominado apartamento-localizado-numa-das-asas?”.

Pena que não gravei a conversa. Nossa, ele falou coisas MUITO interessantes, com as quais concordo e que, aliás, até têm sido pauta desse blog por muito tempo, a saber:

·         para quem não trabalha em horário de pico de trânsito ou tem flexibilidade nos horários, ir e vir de Águas não é assim um problema terrível;

·         a cidade dispõe de serviços muito bons, o que possibilita independência do Plano (só dependemos para trabalhar);

·         não dá para comparar o tipo de apartamento que você compra nas Asas com o que compra em Águas Claras. Com o preço de um 3 quartos na maquete, você compra algo muito mais espaçoso, de frente para  o Parque, ou seja, você t em um espaço interno que é quaquilhões de vezes superior, além de uma área de lazer impossível de encontrar em paragens mais valorizadas.

 

Nossa, fugi TANTO do assunto que terei que nem deu pra contar efetivamente o que queria contar: a nossa noite de polpettone, massa, vinho, risadas, varanda e novos amigos.

A vida pode ser boa @emaguasclaras.

Acredite.

P.S.: detalhe é que saímos lá pela meia-noite e meia, Paixão e eu, acabadões, nos sentindo uns baladeiros, e, no dia seguinte, vimos foto do outro casal convidado (éramos seis pessoas), dando tudo de si em outra festa, que durou até o dia amanhecer. Ah, a juventude...

 

 

 

sexta-feira, 21 de março de 2014

Saudade do interior


Ando com interesses tão diferentes, escrevendo coisas tão distintas, que sobrou pouco espaço para a cidade, mas hoje eu queria contar que encontramos um dos vizinhos de prédio no cachorro-quente da Boulevard Norte (já recomendado por aqui, aliás). Ele estava com o filho, um loirinho de uns 4 anos.


Eles se sentaram ao lado e conversamos, naqueles poucos minutos entre um cachorro-quente e uma coca-cola, muito mais do que em um ano de bons-dias e como-vais no elevador.


Acho que foi o Dia Internacional dos Vizinhos, pelo menos lá no meu prédio, pois, quando chegamos, encontramos no elavador outra vizinha, a da porta da frente, e entabulamos  uma conversa pachorrenta sobre a vida, sobre o lindo enfeite que ela tem na porta (e eu quero um igual!), sobre a paixão que a Letícia tem pelo tal enfeite, sobre a opinião dela de que a menininha já não é tão pequena assim etc.


Foi um dia bem diferente dos dias normais, em que nosso contato com a vizinhança praticamente beira o zerovírgulazero, nesse miserável estilo de vida de não-se-meta-na-minha-vida-que-eu-não-me-meto-na-sua. É inevitável, então, diante do prazer que sentimos em trocar um dedo de prosa, pensar em quantas amizades perdemos, por não ter tempo para uma conversa. Quanto deixamos de viver, engaiolados nos nossos nichos, nestes caixotes de concreto?


Talvez essas perdas e essa superficialidade sejam necessárias. Na verdade, são necessárias sim, se a gente considerar a realidade dos espaços diminutos e das paredes devassáveis. Eu mesma sei que um outro casal (nenhum dos citados) faz sexo umas 3 vezes por semana, que a mulher geme baixinho (ahn,ahn,ahn...). São de uma regularidade incrível, e eu ouço isso enquanto dou mamadeira para a filha. Sei também que o filho da vizinha (essa da porta enfeitada) sai todo o dia regularmente às 6 e 15 da manhã, leva o lixo e depois volta pra fechar a porta e pegar o elevador. Sei mais um monte de coisas, porque é tudo muito estreito e a gente vive muito junto, de tal modo que é preciso resguardar um mínimo de privacidade, nem que seja essa assim do você-me-ouve-transar-mas-eu-não-te-cumprimento-direito-e-não-pense-que-somos-íntimos.


Enfim, mas que é uma vidinha miserável, ah, isso é sim.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Do Piauí para Águas Claras


Um Leitor do Piauí estava com algumas dúvidas e resolvi responder por aqui para ajudar outras pessoas quem têm as mesmas dúvidas.

Olá, Leitor,

Já estive no Piauí, quando trabalhava no MEC, e depois convivi com algumas pessoas da Justiça Eleitoral, que são do Piauí. A minha impressão sobre o povo do seu Estado é maravilhosa: não sei se é coincidência ou não, mas são todos pessoas maravilhosas e também muito acolhedoras, e é exatamente por isso que faço questão de desejar a você e sua família muito sucesso na jornada que se inicia, em terras brasilienses.

Vou tentar dar minha opinião sobre o que pergunta. Antes disso, quero dar uma super dica: há um grupo no Facebook, chamado "Mães Amigas de Águas Claras", que tem mais de 13 mil participantes. Acho que seria interessante sua mulher entrar, para ter outras opiniões também. O grupo é uma riqueza mesmo, vocês não vão se arrepender!

Vamos às dúvidas:

- Trânsito - o percurso de Águas até o HUB leva, de carro, com trânsito bom, uns 30 minutos. Agora, quando o trânsito está ruim, meu amigo, é um deus-nos-acuda e você pode levar até mais de 1 hora para chegar. O horário de pico, entretanto, vai mais ou menos da 7 da manhã até as 10, então acho que, na maioria dos dias, você escaparia. O metrô não vai até a Asa Norte, infelizmente.

- Moradia - imagino que você só conseguiria um apartamento de 3 quartos, no valor que citou, se a metragem for bem pequena (tipo uns 60/70 metros quadrados). Os aluguéis por aqui são muito caros; sempre fico horrorizada!

 Em relação a ruas e quadras, não há nenhuma assim terrível. Minha sugestão pessoal é que você procure algo próximo ao metrô, pois isso facilita demais a vida da gente! Para você se informar melhor, dê uma olhada no site www.wimoveis.com.br. Você conhece? É muito utilizado pelo pessoal de Brasília, para venda e aluguel de imóveis. Também acho que o ideal seria alugar direto com o proprietário, por isso indiquei o tal do grupo do Facebook, pois talvez lá vocês encontrem. Fora isso, penso que será difícil encontrar quem alugue fora de imobiliária...

-  Violência - apesar da comoção gerada por um assassinato ocorrido há pouco tempo, a cidade é uma das mais seguras do DF (pelo menos, por enquanto). É claro que se trata de um local com 135 mil pessoas, então sempre surge uma ou outra agressão, mas nada que assuste ou apavore. Eu, pelo menos, não sou apavorada, apesar de tomar os cuidados básicos... Enfim, o que estou querendo dizer é que o item "nível de violência" não seria um parâmetro que me impediria de morar @emaguasclaras.

Espero ter ajudado. Vou postar a resposta no blog também, pois muita gente me procura com esse tipo de dúvida!

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

ATOLADINHA

Tempo fechado. 8 horas da manhã.  Trânsito congestionado na Av. Castanheiras. Preciso atravessar para o outro lado da pista um carrinho de bebê e uma bolsa pesada.  Reluto, diante dos carros, que andam um pouquinho, param um tantão, andam mais um trecho. Não consigo calcular se é possível atravessar com a carga preciosa que carrego, então resolvo ir até o semáforo e atravessar direitinho, mesmo que isso signifique um tremendo desvio da rota original.

Arrasto o carrinho, equilibrando a bolsa. Não há calçadas em Águas Claras. Só uma série de trechos de terra, misturados com entulho mal-resolvido, intercalados por uma ou outra cratera. Juro. Não é exagero. É assim mesmo, uma aventura para quem está conduzindo um bebê (para um cadeirante, aventura impossível.).

A coisa parece ruim, mas ainda vai piorar, pois, diante de nós (eu e um bebê de 9 meses) está a entrada para o “estacionamento” (que deveria ser um parque, mas isso é papo para outro post!) do Edifício One, aquele do Primeiro Bar. A entrada não é asfaltada, mas alguém encheu o local de brita, aquelas pedrinhas bem fininhas, de modo que terei de vencer uma mistura de lama empedrada e barulhenta. Começo a atravessar, aos trancos (nem consigo pensar em como se sente a bebê, sacolejando-se toda, essa águas-clarense da gema), mas eis que fico irremediavelmente ATOLADA. Tento tirar o carrinho, sem sucesso, e começo a suar, desesperada com a perspectiva de ficar ali por mais tempo e um carro entrar de repente e nos atingir e então faço um esforço hercúleo e arranco o carrinho, todo sujo de lama e brita, daquele lugar infernal.

O alívio é imenso, mas um pouco mais tarde, depois que a adrenalina abaixou, perceberei um deslocamento feio no pulso, deslocamento que me fará realizar pela metade (e com dor) a maioria das minhas atividades de mãe-que-cuida-sem-babá-de-um-neném-cheio-de-energia.

Sério mesmo, gente. Como fazem os cadeirantes ?

Não fazem, né?


*Neste ano, fiz questão de transferir meu título de eleitor para cá, só para tentar manifestar de modo mais objetivo essa indignação (que chegou às raias da dor física, como acabei de contar) que sinto com esse abandono e desleixo. Este blog não apoia nenhum candidato específico na campanha ao governo do GDF, mas COM CERTEZA tenho uma lista extensa de pessoas em quem não votarei (nem mesmo se ganhar uma botina para atravessar os charcos de Águas Claras).*

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

R$ 10,00


Nestes tempos de preços $urreais, resolvi postar uma lista de lugares ABSURDAMENTE baratos (para os padrões de Águas Claras, veja bem), cuja relação custo-benefício seja interessante. Essa ideia surgiu de uma leitora, que chegou à cidade e queria sugestões.(Querida leitora, manifeste-se, pois procurei seu comentário e não encontrei, para dar os créditos à autora da ideia. Obrigada pela dica de pauta!)

Em primeiro lugar, é o seguinte: se você for do tipo MUITO gourmet, exigente ao quadrado, não perca tempo com este post. Vou falar aqui do podrão, da comida de rua, da experiência sincera, mas não necessariamente fina e elegante.  O único critério é o da higiene: em frente à minha casa, por exemplo, existe um restaurante a céu aberto, que nunca consegui encarar, pois vejo, lá de cima, que eles trazem a água para cozinhar em galões e eu sinto falta de uma torneirinha que esteja ali, pra neguinho ir lavando à mão, enquanto cozinha. O fato é que, em que pesem essas minhas ressalvas todas, a mesa e os banquinhos de madeira “bombam”: muitos dos operários das obras por perto almoçam ali, o que é indício fortíssimo de que o lugar é bom, não é mesmo?

Comecemos.

- Na lateral da Estação Águas Claras do metrô, existe um churrasquinho-de-gato gostoso e honesto. Cláudio e eu sempre levamos para casa uma marmita deles, que sai por 7 reais. Nela, vem (muito) arroz, vinagrete, feijão tropeiro  (delícia) e o próprio churrasco (carne de vaca, de frango ou lingüiça). A carne não é lá muito bem-servida (lóóógico), de modo que a gente costuma levar dois espetinhos para cada marmita, mas vale muito a pena e você come por 10 reais. Parece que muita gente segue o roteiro: passa por lá, depois do trabalho e do metrô, e já chega em casa com sua jantinha simples e barata.

- O Miqueias abriu por estes dias e já está lotado. Trata-se de uma lanchonete que eu já visitava em Taguatinga. Aqui em Águas, o espaço é pequeno, mas em Tagua a lanchonete é um galpão enorme, que enche de gente quase todo o dia. Eles têm um cardápio enxuto, que consiste basicamente em sanduíches daqueles cheios de caloria e gordura (e por isso, deliciosos) e (agora vem a dica mesmo) um prato de macarrão estilo Spoleto, que sai por 10 reais apenas. Você escolhe os ingredientes e, meus amigos, bate para dentro um prato de peão. Nunca dou conta de tudo, é muito bem-servido.

-  As barraquinhas de cachorro-quente já viraram uma instituição da cidade. Existem várias e quase sempre são uma excelente opção. O meu preferido é um que fica na Boulevard Norte, na altura da Uniplan. Huuuum... estou até salivando aqui! O preço não é assim tão “oh, que coisa incrível!”, se considerarmos que salsicha é coisa barata demais,  mas acho que com 10 reais você garante hot-dog (lembrei a novela do Félix agora!) e refrigerante. Mais uma dica: peça SEMPRE com pasta de alho. O bafo, você resolve depois.


(Acho que vou transformar este post em uma série. Há outros lugares legais. Vamos fazer isso de forma colaborativa? Dê sua dica aí nos comentários!)

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Planetário de Brasília - uma experiência (by Ivens Rocha)

Expectativa é uma merda. Expectativa criada por propaganda, nem se fala.

Este post pode ser confundido como mais um post no estilo "classe média sofre", mas é uma boa forma de refletir sobre o destino do dinheiro que pagamos em impostos. 

Pra quem não sabe, em dezembro do ano passado o Governo do DF na gestão do Governador Agnelo  do PT reabriu o Planetário, logo atrás do Centro de Convenções Ulysses Guimarães.

É uma iniciativa louvável, pois a capital do país carece de templos educacionais científicos.

Sempre fui apaixonado por astronomia, por aquelas imagens de lugares e esferas longíquas flutuando na solidão do espaço (imagine isso com Enya tocando ao fundo). Adorava assistir a saga de Cosmus, de Carl Sagan, quando, após um dia de trabalho e estudos cansativo, me deitava e me cobria em uma região fria, que é o Sul de Minas e assistia a cada frase de Sagan, cada imagem, com muita atenção e às vezes até me emocionava. Nunca entendi o que me deixava emocionado, mas deixava.

A inauguração do Planetário me deixou tão animado que convenci a minha namorada a fazer este programa de índio logo nos primeiros dias, mas infelizmente a demanda era gigantesca e as filas idem, o que já estamos acostumados em pontos turísticos recém lançados (esperamos 1h30 nos primeiros dias de reinauguração da Torre de TV Digital). Adiamos.

A expectativa aumentava cada dia mais, a cada propaganda na TV do GDF anunciando que "este governo acaba de reinagurar o Planetário, que estava há trilhões de anos-luz fechado, mas este governo é bondoso e este governo é caridoso e agora todos vão poder usufruir da maravilha que é o projetor que este governo adquiriu e que existem somente outros dois lugares do mundo que possuem tão avançada tecnologia. Este governo é bom, acredite!".

O dia chegou, compramos dois quilos de alimento não-perecível e trocamos por dois ingressos para a sessão das 18h30 de Sábado. Todas as outras sessões já haviam se esgostado, em uma impressionante demonstração do quão famintas por experiências e conhecimento as pessoas são.

Chegou a hora! Adentramos a cúpula e eu, na minha inocência e ignorância, tive minha primeira surpresa: não, não temos um guia para explicar fotos e fatos. Eu achava que a cúpula com a exibição de vídeos dos planetas, das estrelas, da Terra seria guardado para o final, assim como guardamos a melhor comida do prato para saborear aos poucos ao final da refeição. Mas tudo bem, era coisa que apenas eu esperava, nada demais. Vamos que vamos! Vai ser muito bom, afinal, é o projetor bambabam que o GDF comprou da Alemanha e anuncia a cada intervalo da programação da TV Globo, não é?

Sentamos nas primeiras cadeiras, de frente para um trambolho azul o que, percebemos depois, atrapalhou a visão em linha reta, fazendo com que minha namorada tivesse que assistir olhando apenas para cima e ignorando as partes da frente. Mas tudo bem, nada que incomode. Tudo vale a pena para presenciar o espetáculo do universo. E pode ser que esse trabolho tenha alguma utilidade que eu não saiba, no fim das contas. 

Ledo engano. Apagaram-se as luzes e iniciou-se o filme "A Origem da Vida", que parecia um filme de animação criado em 1995, com personagens e movimentação patéticas e informação que pode ser facilmente adquirida em um simples assistir de TV em canais abertos, como TV Cultura e Futura.

Não mostrava nada de interessante e a qualidade do "super projetor" não era aparente pois o filme exibido foi extremamente mal feito. Até em "Família Dinossauro" os dinossauros eram bem-feitos! Como diabos conseguiram fazer os do filme parecerem ter sido feitos por estagiários do curso técnico de desenho 3D da Bolívia?

Minha namorada disse com razão que nem os episódios do Chapolin, com os famigerados aerolitos, foram tão ruins. Se tivéssemos assistido Chapolin teria valido mais a pena, pois as crianças presentes teriam aprendido que por mais difícil que seja, Chapolin sempre conseguia seus objetivos e fazia o trabalho. Talvez os gerentes do projeto do Planetário do GDF devessem assistir mais SBT.

Notei uma criança sentada ao meu lado e fiquei pensando se para ela, aquele vídeo de qualidade ruim seria interessante mesmo assim. Hoje, nem para crianças de 5 anos aquele filme convence. Em um mundo onde minha sobrinha de menos de 1 ano já sabe segurar o celular e apertar o controle remoto, as crianças crescem vendo animações bem feitas da Pixar, video games de última geração e conteúdo abrangente e de graça disponível na internet. Nem para a criança o Planetário serve.

De repente, exatamente às 18h55, o filme acaba e as luzes se acendem. As pessoas continuam sentadas em suas cadeiras - pais e filhos animados para o início da jornada nas estrelas e na Terra, excitados pela oportunidade de presenciar a beleza do universo e contemplar com imagens deslumbrantes a "pequena bola azul" navegando pelos mares do infinito. Vai começar. As cortinas se abrem e o narrador fala "Obrigado pela presença!". 

Ouvimos na cadeira de trás uma menina por volta de seus 7 anos: "já acabou?". Sim, pobre garota.

Segundo minha namorada, o Planetário de Goiânia é (ou era) muito melhor do que o de Brasília. Mostrava vídeos das missões da Apolo, dentre outras coisas realmente interessantes e mais bem feitas.

Isso me fez refletir o quanto os brasileiros somos acostumados a receber migalhas. Inflação subindo e ano após ano o governo batendo recorde de impostos arrecadados. Quando recebemos o presente de um Planetário ou algo que tenha o dedo do governo, pode parecer que estão fazendo um favor, mas não estão. É nosso dinheiro, pago com nosso suor que é usado e tão mal usado, é dinheiro jogado no lixo, jogado às traças.



É um reflexo do poder que o Estado tem para estragar tudo o que toca. O Estado é um midas invertido, estraga, corrompe, destrói, a cada máquina de asfalto que passa e que deixa para trás tampas de bueiro quebradas, bocas de lobo abertas, a cada entrega de cartas atrasada, a cada alfândega incompetente, a cada hospital que deixa para trás pessoas curadas, mas desrespeitadas. Menos Estado, por favor."