segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Do Piauí para Águas Claras


Um Leitor do Piauí estava com algumas dúvidas e resolvi responder por aqui para ajudar outras pessoas quem têm as mesmas dúvidas.

Olá, Leitor,

Já estive no Piauí, quando trabalhava no MEC, e depois convivi com algumas pessoas da Justiça Eleitoral, que são do Piauí. A minha impressão sobre o povo do seu Estado é maravilhosa: não sei se é coincidência ou não, mas são todos pessoas maravilhosas e também muito acolhedoras, e é exatamente por isso que faço questão de desejar a você e sua família muito sucesso na jornada que se inicia, em terras brasilienses.

Vou tentar dar minha opinião sobre o que pergunta. Antes disso, quero dar uma super dica: há um grupo no Facebook, chamado "Mães Amigas de Águas Claras", que tem mais de 13 mil participantes. Acho que seria interessante sua mulher entrar, para ter outras opiniões também. O grupo é uma riqueza mesmo, vocês não vão se arrepender!

Vamos às dúvidas:

- Trânsito - o percurso de Águas até o HUB leva, de carro, com trânsito bom, uns 30 minutos. Agora, quando o trânsito está ruim, meu amigo, é um deus-nos-acuda e você pode levar até mais de 1 hora para chegar. O horário de pico, entretanto, vai mais ou menos da 7 da manhã até as 10, então acho que, na maioria dos dias, você escaparia. O metrô não vai até a Asa Norte, infelizmente.

- Moradia - imagino que você só conseguiria um apartamento de 3 quartos, no valor que citou, se a metragem for bem pequena (tipo uns 60/70 metros quadrados). Os aluguéis por aqui são muito caros; sempre fico horrorizada!

 Em relação a ruas e quadras, não há nenhuma assim terrível. Minha sugestão pessoal é que você procure algo próximo ao metrô, pois isso facilita demais a vida da gente! Para você se informar melhor, dê uma olhada no site www.wimoveis.com.br. Você conhece? É muito utilizado pelo pessoal de Brasília, para venda e aluguel de imóveis. Também acho que o ideal seria alugar direto com o proprietário, por isso indiquei o tal do grupo do Facebook, pois talvez lá vocês encontrem. Fora isso, penso que será difícil encontrar quem alugue fora de imobiliária...

-  Violência - apesar da comoção gerada por um assassinato ocorrido há pouco tempo, a cidade é uma das mais seguras do DF (pelo menos, por enquanto). É claro que se trata de um local com 135 mil pessoas, então sempre surge uma ou outra agressão, mas nada que assuste ou apavore. Eu, pelo menos, não sou apavorada, apesar de tomar os cuidados básicos... Enfim, o que estou querendo dizer é que o item "nível de violência" não seria um parâmetro que me impediria de morar @emaguasclaras.

Espero ter ajudado. Vou postar a resposta no blog também, pois muita gente me procura com esse tipo de dúvida!

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

ATOLADINHA

Tempo fechado. 8 horas da manhã.  Trânsito congestionado na Av. Castanheiras. Preciso atravessar para o outro lado da pista um carrinho de bebê e uma bolsa pesada.  Reluto, diante dos carros, que andam um pouquinho, param um tantão, andam mais um trecho. Não consigo calcular se é possível atravessar com a carga preciosa que carrego, então resolvo ir até o semáforo e atravessar direitinho, mesmo que isso signifique um tremendo desvio da rota original.

Arrasto o carrinho, equilibrando a bolsa. Não há calçadas em Águas Claras. Só uma série de trechos de terra, misturados com entulho mal-resolvido, intercalados por uma ou outra cratera. Juro. Não é exagero. É assim mesmo, uma aventura para quem está conduzindo um bebê (para um cadeirante, aventura impossível.).

A coisa parece ruim, mas ainda vai piorar, pois, diante de nós (eu e um bebê de 9 meses) está a entrada para o “estacionamento” (que deveria ser um parque, mas isso é papo para outro post!) do Edifício One, aquele do Primeiro Bar. A entrada não é asfaltada, mas alguém encheu o local de brita, aquelas pedrinhas bem fininhas, de modo que terei de vencer uma mistura de lama empedrada e barulhenta. Começo a atravessar, aos trancos (nem consigo pensar em como se sente a bebê, sacolejando-se toda, essa águas-clarense da gema), mas eis que fico irremediavelmente ATOLADA. Tento tirar o carrinho, sem sucesso, e começo a suar, desesperada com a perspectiva de ficar ali por mais tempo e um carro entrar de repente e nos atingir e então faço um esforço hercúleo e arranco o carrinho, todo sujo de lama e brita, daquele lugar infernal.

O alívio é imenso, mas um pouco mais tarde, depois que a adrenalina abaixou, perceberei um deslocamento feio no pulso, deslocamento que me fará realizar pela metade (e com dor) a maioria das minhas atividades de mãe-que-cuida-sem-babá-de-um-neném-cheio-de-energia.

Sério mesmo, gente. Como fazem os cadeirantes ?

Não fazem, né?


*Neste ano, fiz questão de transferir meu título de eleitor para cá, só para tentar manifestar de modo mais objetivo essa indignação (que chegou às raias da dor física, como acabei de contar) que sinto com esse abandono e desleixo. Este blog não apoia nenhum candidato específico na campanha ao governo do GDF, mas COM CERTEZA tenho uma lista extensa de pessoas em quem não votarei (nem mesmo se ganhar uma botina para atravessar os charcos de Águas Claras).*

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

R$ 10,00


Nestes tempos de preços $urreais, resolvi postar uma lista de lugares ABSURDAMENTE baratos (para os padrões de Águas Claras, veja bem), cuja relação custo-benefício seja interessante. Essa ideia surgiu de uma leitora, que chegou à cidade e queria sugestões.(Querida leitora, manifeste-se, pois procurei seu comentário e não encontrei, para dar os créditos à autora da ideia. Obrigada pela dica de pauta!)

Em primeiro lugar, é o seguinte: se você for do tipo MUITO gourmet, exigente ao quadrado, não perca tempo com este post. Vou falar aqui do podrão, da comida de rua, da experiência sincera, mas não necessariamente fina e elegante.  O único critério é o da higiene: em frente à minha casa, por exemplo, existe um restaurante a céu aberto, que nunca consegui encarar, pois vejo, lá de cima, que eles trazem a água para cozinhar em galões e eu sinto falta de uma torneirinha que esteja ali, pra neguinho ir lavando à mão, enquanto cozinha. O fato é que, em que pesem essas minhas ressalvas todas, a mesa e os banquinhos de madeira “bombam”: muitos dos operários das obras por perto almoçam ali, o que é indício fortíssimo de que o lugar é bom, não é mesmo?

Comecemos.

- Na lateral da Estação Águas Claras do metrô, existe um churrasquinho-de-gato gostoso e honesto. Cláudio e eu sempre levamos para casa uma marmita deles, que sai por 7 reais. Nela, vem (muito) arroz, vinagrete, feijão tropeiro  (delícia) e o próprio churrasco (carne de vaca, de frango ou lingüiça). A carne não é lá muito bem-servida (lóóógico), de modo que a gente costuma levar dois espetinhos para cada marmita, mas vale muito a pena e você come por 10 reais. Parece que muita gente segue o roteiro: passa por lá, depois do trabalho e do metrô, e já chega em casa com sua jantinha simples e barata.

- O Miqueias abriu por estes dias e já está lotado. Trata-se de uma lanchonete que eu já visitava em Taguatinga. Aqui em Águas, o espaço é pequeno, mas em Tagua a lanchonete é um galpão enorme, que enche de gente quase todo o dia. Eles têm um cardápio enxuto, que consiste basicamente em sanduíches daqueles cheios de caloria e gordura (e por isso, deliciosos) e (agora vem a dica mesmo) um prato de macarrão estilo Spoleto, que sai por 10 reais apenas. Você escolhe os ingredientes e, meus amigos, bate para dentro um prato de peão. Nunca dou conta de tudo, é muito bem-servido.

-  As barraquinhas de cachorro-quente já viraram uma instituição da cidade. Existem várias e quase sempre são uma excelente opção. O meu preferido é um que fica na Boulevard Norte, na altura da Uniplan. Huuuum... estou até salivando aqui! O preço não é assim tão “oh, que coisa incrível!”, se considerarmos que salsicha é coisa barata demais,  mas acho que com 10 reais você garante hot-dog (lembrei a novela do Félix agora!) e refrigerante. Mais uma dica: peça SEMPRE com pasta de alho. O bafo, você resolve depois.


(Acho que vou transformar este post em uma série. Há outros lugares legais. Vamos fazer isso de forma colaborativa? Dê sua dica aí nos comentários!)

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Planetário de Brasília - uma experiência (by Ivens Rocha)

Expectativa é uma merda. Expectativa criada por propaganda, nem se fala.

Este post pode ser confundido como mais um post no estilo "classe média sofre", mas é uma boa forma de refletir sobre o destino do dinheiro que pagamos em impostos. 

Pra quem não sabe, em dezembro do ano passado o Governo do DF na gestão do Governador Agnelo  do PT reabriu o Planetário, logo atrás do Centro de Convenções Ulysses Guimarães.

É uma iniciativa louvável, pois a capital do país carece de templos educacionais científicos.

Sempre fui apaixonado por astronomia, por aquelas imagens de lugares e esferas longíquas flutuando na solidão do espaço (imagine isso com Enya tocando ao fundo). Adorava assistir a saga de Cosmus, de Carl Sagan, quando, após um dia de trabalho e estudos cansativo, me deitava e me cobria em uma região fria, que é o Sul de Minas e assistia a cada frase de Sagan, cada imagem, com muita atenção e às vezes até me emocionava. Nunca entendi o que me deixava emocionado, mas deixava.

A inauguração do Planetário me deixou tão animado que convenci a minha namorada a fazer este programa de índio logo nos primeiros dias, mas infelizmente a demanda era gigantesca e as filas idem, o que já estamos acostumados em pontos turísticos recém lançados (esperamos 1h30 nos primeiros dias de reinauguração da Torre de TV Digital). Adiamos.

A expectativa aumentava cada dia mais, a cada propaganda na TV do GDF anunciando que "este governo acaba de reinagurar o Planetário, que estava há trilhões de anos-luz fechado, mas este governo é bondoso e este governo é caridoso e agora todos vão poder usufruir da maravilha que é o projetor que este governo adquiriu e que existem somente outros dois lugares do mundo que possuem tão avançada tecnologia. Este governo é bom, acredite!".

O dia chegou, compramos dois quilos de alimento não-perecível e trocamos por dois ingressos para a sessão das 18h30 de Sábado. Todas as outras sessões já haviam se esgostado, em uma impressionante demonstração do quão famintas por experiências e conhecimento as pessoas são.

Chegou a hora! Adentramos a cúpula e eu, na minha inocência e ignorância, tive minha primeira surpresa: não, não temos um guia para explicar fotos e fatos. Eu achava que a cúpula com a exibição de vídeos dos planetas, das estrelas, da Terra seria guardado para o final, assim como guardamos a melhor comida do prato para saborear aos poucos ao final da refeição. Mas tudo bem, era coisa que apenas eu esperava, nada demais. Vamos que vamos! Vai ser muito bom, afinal, é o projetor bambabam que o GDF comprou da Alemanha e anuncia a cada intervalo da programação da TV Globo, não é?

Sentamos nas primeiras cadeiras, de frente para um trambolho azul o que, percebemos depois, atrapalhou a visão em linha reta, fazendo com que minha namorada tivesse que assistir olhando apenas para cima e ignorando as partes da frente. Mas tudo bem, nada que incomode. Tudo vale a pena para presenciar o espetáculo do universo. E pode ser que esse trabolho tenha alguma utilidade que eu não saiba, no fim das contas. 

Ledo engano. Apagaram-se as luzes e iniciou-se o filme "A Origem da Vida", que parecia um filme de animação criado em 1995, com personagens e movimentação patéticas e informação que pode ser facilmente adquirida em um simples assistir de TV em canais abertos, como TV Cultura e Futura.

Não mostrava nada de interessante e a qualidade do "super projetor" não era aparente pois o filme exibido foi extremamente mal feito. Até em "Família Dinossauro" os dinossauros eram bem-feitos! Como diabos conseguiram fazer os do filme parecerem ter sido feitos por estagiários do curso técnico de desenho 3D da Bolívia?

Minha namorada disse com razão que nem os episódios do Chapolin, com os famigerados aerolitos, foram tão ruins. Se tivéssemos assistido Chapolin teria valido mais a pena, pois as crianças presentes teriam aprendido que por mais difícil que seja, Chapolin sempre conseguia seus objetivos e fazia o trabalho. Talvez os gerentes do projeto do Planetário do GDF devessem assistir mais SBT.

Notei uma criança sentada ao meu lado e fiquei pensando se para ela, aquele vídeo de qualidade ruim seria interessante mesmo assim. Hoje, nem para crianças de 5 anos aquele filme convence. Em um mundo onde minha sobrinha de menos de 1 ano já sabe segurar o celular e apertar o controle remoto, as crianças crescem vendo animações bem feitas da Pixar, video games de última geração e conteúdo abrangente e de graça disponível na internet. Nem para a criança o Planetário serve.

De repente, exatamente às 18h55, o filme acaba e as luzes se acendem. As pessoas continuam sentadas em suas cadeiras - pais e filhos animados para o início da jornada nas estrelas e na Terra, excitados pela oportunidade de presenciar a beleza do universo e contemplar com imagens deslumbrantes a "pequena bola azul" navegando pelos mares do infinito. Vai começar. As cortinas se abrem e o narrador fala "Obrigado pela presença!". 

Ouvimos na cadeira de trás uma menina por volta de seus 7 anos: "já acabou?". Sim, pobre garota.

Segundo minha namorada, o Planetário de Goiânia é (ou era) muito melhor do que o de Brasília. Mostrava vídeos das missões da Apolo, dentre outras coisas realmente interessantes e mais bem feitas.

Isso me fez refletir o quanto os brasileiros somos acostumados a receber migalhas. Inflação subindo e ano após ano o governo batendo recorde de impostos arrecadados. Quando recebemos o presente de um Planetário ou algo que tenha o dedo do governo, pode parecer que estão fazendo um favor, mas não estão. É nosso dinheiro, pago com nosso suor que é usado e tão mal usado, é dinheiro jogado no lixo, jogado às traças.



É um reflexo do poder que o Estado tem para estragar tudo o que toca. O Estado é um midas invertido, estraga, corrompe, destrói, a cada máquina de asfalto que passa e que deixa para trás tampas de bueiro quebradas, bocas de lobo abertas, a cada entrega de cartas atrasada, a cada alfândega incompetente, a cada hospital que deixa para trás pessoas curadas, mas desrespeitadas. Menos Estado, por favor."