Gosto dos rituais: vencer a preguiça, colocar a filhota no
carrinho, atravessar a Castanheiras, subir a 26 Norte, entrar pela portinhola,
decidir se subo ou se desço (se subo, enfrento o sol no rosto. Se desço, deixo
a subida para o final, quando já vou estar cansada), decidir se será volta inteira
ou volta interrompida e, finalmente, usufruir a paisagem que, no caso, é tanto
natural quanto humana.
Se subo, logo passo pelos pneus com flores. Sempre acho
aquilo muito bucólico, mas sou incorrigível e fico também olhando os prédios,
avaliando se gosto ou se não gosto da fachada, se o valor é alto ou baixo, se
gostaria ou não de morar ali. Nesse exercício, aliás, companheiro e eu temos
nossas constantes: falamos mal de um dos condomínios (evidentemente, não
falarei qual é, pois já tive a minha cota de polêmica semanal), que é
mal-acabado, desestruturado, imenso pombal, e elogiamos o outro, que é lindo,
de estruturas firmes e de vista maravilhosa.
À medida que avanço, passo pela “matinha”, que fica ao lado
da pista que atravessa o Parque. É ali que costumo observar melhor as pessoas. A
fauna é interessante: pequenos, altos. Gordos, magros. Bem-vestidos, largados.
Crianças e patins. Skates e cães, muitos cães. Uns dizem boa tarde e levo um
sustinho. Outros ouvem música. Alguns simplesmente retribuem o olhar e eu então
desvio os olhos e paro pra tomar uma água no bebedouro. Em algumas situações,
aliás, já travei conversas breves à beira do bebedouro, conversas que giram em
torno dos nossos filhos (lindos) e de nossos cachorros (fofos).
Continuo a caminhada. Se estou com meus pais, fazemos uma
paradinha também no banheiro, que sempre acho muito limpinho e me sinto num
lugar civilizado e que bom que a manutenção é tão caprichosa.
Depois, chega a apoteose do passeio, pelo menos sob a
perspectiva da filha: o laguinho e seus patinhos e gansos e tartaruga (há
também um rato não-fofo e muito selvagem e real, que mora na árvore ao lado de
um dos bancos – cuidado, portanto, pessoal.). Este também é um lugar
interessante para começar conversas aleatórias, soltas, sem compromisso como já
existem no mundo das nossas providências e dos nossos negócios complicados.
Atravessamos a pontezinha e então, já que quase sempre a
volta é a curtinha, pois o bebê é álibi perfeito e precisa comer e trocar fralda
com horário marcado, começo a subida. Dia desses, havia mil minhocas mortas no
asfalto. Dó delas, mas o carrinho passa em cima. Desvio das bicicletas que
descem à toda e continuo a subir, bufando de sedentarismo, mas já adrenalinizada e cheia de projetos
bem-intencionados, que não se cumprirão (“hoje vou fazer a volta interrompida, mas amanhã juro
que volto e faço inteira).
Atravesso a portinhola e volto à vida @emaguasclaras como ela
é: ai, que preguiça de arrastar o carrinho por essas (não) calçadas...
visualizei cada passo e cada detalhe do caminho.
ResponderExcluircomo é bom te ler, prima. =)
beijodoce
iza
Obrigada, querida prima.
ResponderExcluirSaudades!!!!
Beijodoce procê também,
Issana
Adoro todos os seus textos, você escreve com tanta sensibilidade que consegue fácil fazer a gente se imaginar no seu lugar. Estou indo morar em Águas Claras (mais uma filha de Brasília que não tem mais $$$ pra morar no Plano Piloto, rs) e apesar de ter certeza de que vou sentir falta do Plano não vejo a hora de experimentar os ares de Águas Claras e curtir meu apê, finalmente meu. Economizar quase 2 mil pila de aluguel também vai ser ótimo! rs
ResponderExcluirQuem sabe um dia a gente se conheça num passeio no parque com nossos carrinhos de bebê. :)
Beijos!
http://www.baudabijou.com.br/